De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, ser um empreendedor em um mercado cada vez mais competitivo não é fácil. Mas ser dono do próprio negócio em um país como o Brasil, porém, é um desafio ainda maior. O perfil da economia nacional se modificou muito nos últimos anos e, segundo pesquisa do Sebrae e do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), quase 44% dos brasileiros sonham em ter a própria empresa.
Apesar de esses índices apresentarem constante crescimento ao longo dos anos, os que desejam empreender se deparam com fatores que são verdadeiros entraves para o crescimento e, em alguns casos, para a sobrevivência da empresa. Burocracia excessiva, carência de incentivos do poder público e, principalmente, a complexidade e defasagem do sistema tributário e fiscal fazem do Brasil um terreno pouco fértil para quem deseja ter sucesso como empresário.
Na contramão dos dados que mostram o crescimento da parcela de pessoas que querem abrir a própria empresa, um estudo do IBGE revela que, de cada 100 companhias abertas no Brasil, 48 encerram suas atividades em três anos. Esse diagnóstico abarca principalmente as micros e pequenas empresas, que hoje somam cerca de 9 milhões no país, respondendo por 27% do PIB e empregando cerca de 60% da População Economicamente Ativa (PEA).
Todavia, esclarece Glauco, não são somente os negócios com essa configuração que sofrem com os entraves de gestão. Se uma empresa consegue crescer, ela é punida com mais burocracia e, proporcionalmente, com mais impostos. Em relação à nossa alta carga tributária, ficamos atrás somente de nações desenvolvidas, como Suécia, Finlândia, Bélgica, França e Dinamarca. Uma grande diferença entre nós e eles, porém, é que, nos outros países os encargos retornam para a sociedade por meio de serviços públicos de qualidade.
Glauco explica que além dos impostos cada vez mais elevados e com valores desequilibrados, a volatilidade das normas fiscais e tributárias do país exige atenção por parte dos empresários para atender às demandas do fisco. De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), são editadas no Brasil, em média, 37 normas por dia, ou seja, 1,57 por hora. Essas alterações se dão principalmente porque as bases da atual legislação datam da década de 1950. Ela precisa não só ser reformada, mas reconstruída “do zero”, de modo a acompanhar as configurações de mercado sem causar impactos diretos no desenvolvimento e na gestão das empresas.
Como isso ainda não é uma realidade, os empreendedores brasileiros, incluindo os contadores, precisam gastar cada vez mais tempo e dinheiro para se atualizar sobre as diferentes demandas da Receita Federal. Nesse sentido, os softwares contábeis e de gestão podem ser grandes aliados.
Somadas à complexidade da nossa legislação, outras barreiras também surgem quando o assunto é fazer a gestão do negócio: baixa produtividade do trabalhador brasileiro (rendemos, em média, um quarto do que os americanos produzem), falta de incentivo do governo à inovação, baixa qualificação dos colaboradores, menos infraestrutura física e tecnológica.
Algumas alternativas, no entanto, se mostram viáveis: simplificação e transparência dos procedimentos fiscais (municipais, estaduais e federais), maior prazo para recolhimento dos tributos e possibilidade de renegociação de dívidas. Além disso, é preciso oferecer mais subsídios aos micros e pequenos empresários para que tenham condições de realizar a gestão eficiente do negócio, aumentando a taxa de sobrevivência dessas companhias, que constituem uma importante base da nossa economia.