GLAUCO DINIZ DUARTE BorgWarner ainda espera demanda maior por turbos
Ainda não aconteceu a grande demanda esperada por turbos em veículos leves no Brasil, como forma de baixar o consumo dos motores flex para atender as metas de eficiência energética expressas pelo Inovar-Auto. A BorgWarner estreou no segmento em 2015 ao fornecer os primeiros turbocompressores da família B01 produzidos em sua fábrica de Itatiba (SP) para a Volkswagen equipar o motor EA211 1.0 usado no Up! TSI. Neste primeiro ano foram fabricados apenas cerca de 13 mil unidades do componente, uma pequena fração menor que 6% do total de 220 mil feitos pela empresa, a grande maioria destinada para motores diesel de veículos comerciais. Ainda assim, a fabricante espera que isso é só o começo e que esse grande mercado ainda vai acontecer.
“Já temos no momento cotações feitas com quatro outros fabricantes de veículos, para instalar turbos em modelos que já usam o nosso componente fora do País. Claro que não esperamos vencer todas as concorrências, mas se fecharmos apenas um desses contratos existe potencial para dobrar a produção em Itatiba, mas só a partir de 2018 ou 2019”, afirma Vitor Maiellaro, diretor da unidade de turbocompressores da BorgWarner no Brasil. Segundo ele, quando a empresa deixou a antiga unidade que ocupava na vizinha Campinas desde 1975 e se mudou no começo de 2013 para Itatiba, já pensou para receber essa expansão, pois hoje as linhas de produção ocupam só metade da área construída de 20 mil metros quadrados. “É uma questão de tempo, pois o uso de turbos já é uma tendência mundial para reduzir consumo”, completa, citando que na Europa 80% dos motores (somando diesel e otto) têm turbo e na Ásia esse porcentual está subindo de 45% para 50%.
O diretor de engenharia da BorgWarner, Lauro Takabatake, avalia que a lentidão na adoção em maior volume de turbos para carros no País não é por causa do preço do componente. “O Up! TSI custa cerca de R$ 3 mil a mais do que o aspirado, mas poderia ser até menos. Na ponta do lápis, as engenharias concordam que é uma solução viável e eficiente para reduzir o consumo, mas o problema é que muitas vezes o marketing quer diferenciar o carro turbo com a antiga visão de que o equipamento só traz mais potência, quer agregar essa imagem no valor e aí fica mais caro”, explica ele, que há quase cinco anos vem trabalhando na adaptação de turbos para motores flex.
“No caso da Volkswagen a decisão (de lançar um carro turbinado) foi tomada antes do Inovar-Auto e o programa só veio ajudar”, conta Takabatake. Para ele, o Up! servirá de bom exemplo para acelerar o lançamento de mais modelos turbinados, ainda que até agora as montadoras tenham optado por outras soluções para reduzir consumo, como pneus verdes e materiais mais leves. “Com o turbo seria mais fácil atingir as metas de eficiência energética”, destaca.
IMPORTÂNCIA CRESCENTE
Apesar da demora em estabelecer a tecnologia no Brasil, o fornecimento para a Volkswagen já ganhou importância e faz diferença. A queda na produção de turbos da BorgWarner em 2015 sobre 2014 teria sido de 23%, e não de 18,5%, caso o componente feito para o Up! TSI não tivesse entrado em linha. E este ano Maiellaro projeta que o volume deverá permanecer estável em 220 mil unidades com o maior fornecimento do B01, que deverá compensar a nova queda esperada para turboalimentadores destinados ao segmento de veículos comerciais diesel. “A fábrica deve trabalhar no mesmo ritmo, mas o mix será diferente, com aumento da quantidade de turbos para carros”, diz o diretor.
O resultado ficará, portanto, longe dos 270 mil turbos produzidos em 2014 e mais distante ainda do recorde de 350 mil em 2013. Mas ao menos a reestruturação necessária para trabalhar com volumes menores já foi feita. “Fizemos os ajustes em 2014 e avaliamos que agora temos tamanho adequado para o mercado atual”, afirma Maiellaro.
Este ano estão previstos vários lançamentos de carros com motores turbinados, mas na maioria dos casos a turbina será importada. É o caso de Honda e Hyundai, que usam o componente da BorgWarner, mas vão trazer os propulsores já montados de fora, assim como já faz a Volkswagen com o motor 1.4 turbo usado em versões nacionais do Golf e Audi A3. A concorrência também participa do bolo: o motor 1.0 três-cilindros turbinado que a Ford deve lançar este semestre no Brasil para equipar diversos modelos de sua linha terá a turbina importada fornecida pela Continental; já o três-cilindros da PSA Peugeot Citroën esperado para breve poderá usar o turbo Garrett da Honeywell.
ESTRATÉGIA PARA 2016
Enquanto torce para que as vendas do Up! TSI acelerem, a BorgWarner também foca em outras frentes para superar mais um ano de resultados fracos. Uma dessas frentes é o mercado de reposição, com faturamento que deve aumentar 15% este ano e assim elevar sua participação nas vendas de turbos e componentes para 26% a 27%, contra apenas 16% há três anos. Turboalimentadores remanufaturados já representaram 30% do negócio de aftermarket da empresa em 2015. Com o crescimento do segmento, será instalada uma nova linha dedicada exclusivamente à montagem de turbinas com partes reutilizadas.
Outra estratégia é aumentar a fatia das exportações nas receitas, que foi de 20% em 2015 e este ano deve subir um pouco, para algo como 22% do faturamento da divisão. “Nossa intenção é tentar ganhar contratos intercompanhia”, diz Maiellaro. A Argentina é hoje o maior cliente externo dos turbos fabricados em Itatiba, eles também são vendidos para Estados Unidos, Índia, México, China e França.
No fornecimento direto a montadoras, está em desenvolvimento na BorgWarner um novo turbocompressor de geometria variável que deverá ser fornecido a partir de 2017 para um novo caminhão leve da MAN, com motor diesel pouco acima dos 2 litros.