Energia fotovoltaica é viável – Glauco Diniz Duarte
A instalação de um sistema de energia solar fotovoltaica deve ser enxergada como um projeto de investimento. Para empresas, de modo geral, o conceito de projeto de investimento é bem difundido, porém quando se trata de um sistema residencial, muitas vezes encontra-se certa dificuldade para se analisar a instalação de um sistema fotovoltaico da maneira apropriada.
Por definição, um projeto de investimento é uma proposta de ação que, a partir da utilização dos recursos disponíveis, considera possível obter lucros. Estes benefícios, que possuem riscos atrelados, podem ser obtidos a curto, médio ou longo prazo.
Todo projeto de investimento tem um objetivo, no caso do sistema fotovoltaico, geralmente esse objetivo é a obtenção de lucro através da redução de custos. Para atingir esse objetivo abre-se mão de um recurso hoje (investimento) a fim de se obter resultados futuros (retorno).
Desta forma, para se tomar a decisão pela instalação ou não de um sistema fotovoltaico é importante compreender alguns conceitos financeiros a fim de comparar diversas alternativas de investimento e escolher a que trará o melhor retorno dentro de um determinado perfil de investimento. Iremos discutir a seguir alguns desses conceitos e, no final abordaremos cada um desses conceitos em um estudo de caso.
Taxa mínima de atratividade (TMA)
É uma taxa de remuneração mínima de um projeto para que ele se torne viável do ponto de vista do investidor. A definição dessa taxa é pessoal e, geralmente, reflete a remuneração obtida com um investimento alternativo de perfil de risco semelhante.
Alguns critérios que podem ser usados para definir essa taxa são:
– Um projeto de investimento concorrente: Para pessoas físicas pode ser adotada a taxa de remuneração obtida em um investimento financeiro ao qual esse cliente tenha acesso, p.e: Poupança, CDB, Títulos do tesouro, etc. Já para empresas deve-se comparar com a TIR estimada para outros projetos de investimento disponíveis.
– Taxa de inflação: A inflação pode ser usada como TMA. Assume-se nesse caso que, alternativamente ao investimento no sistema fotovoltaico esse consumidor manteria seu dinheiro parado, perdendo valor com a inflação.
– Tolerância ao risco: Quanto maior o risco de um investimento adota-se uma TMA maior. Isso faz com que um projeto de elevado risco só se mostre viável quando apresenta um potencial de retorno igualmente elevado.
Valor Presente Líquido (VPL)
O VPL é um dos indicadores mais utilizados para se analisar a viabilidade de projetos de investimento. Ele representa o valor presente de um fluxo de caixa, com lançamentos positivos e/ou negativos, descontados a uma taxa de juros apropriada.
Para se entender o VPL é importante compreender que o dinheiro possui valor no tempo. Isso quer dizer que R$ 1.000 hoje mais do que R$ 1.000 daqui a um ano, uma vez que, se os R$ 1.000 fossem investidos hoje, daqui a 1 ano teríamos R$ 1.000 + retorno do investimento em um ano.
Desta forma, para se obter o VPL deve-se construir o fluxo caixa, demonstrando cada entrada e cada saída em cada período de tempo do projeto. Após a construção do fluxo de caixa, calcula-se o valor presente descontando-se, pelo período de tempo apropriado, a TMA de cada uma dessas entradas e saídas. Um VPL positivo indica que, do ponto de vista financeiro, o projeto é viável. Por outro lado, VPL nulo não faz diferença investir ou não, enquanto VPL negativo o projeto não é viável.
Taxa Interna de Retorno (TIR)
A taxa interna de retorno (TIR) representa a taxa de desconto que, quando aplicada ao fluxo de caixa do projeto, obtêm-se um VPL igual a zero. Obter um VPL igual a zero significa que realizar aquele investimento ou não, do ponto de vista financeiro, não faz diferença.
Para estudar a viabilidade de um projeto utiliza-se a TIR comparada com a TMA. Isso quer dizer que uma TIR maior que a TMA indica a viabilidade do projeto. Já a TIR menor do que a TMA o projeto não é viável.
Payback (Tempo de Retorno do Investimento)
Representa o tempo necessário para os retornos de um investimento cobrirem o capital investido. Apesar de ser o indicador de cálculo e interpretação mais simples, não é o indicador mais apropriado para se estudar a viabilidade de um sistema de energia fotovoltaica. Isso porque sua análise não considera o valor do dinheiro no tempo. Outro ponto crucial são as várias incertezas existentes, como variação da tarifa energética e incidência solar, o que distorce bastante o resultado desse indicador.
Para se calcular o payback utiliza-se:
Alternativamente pode-se usar o Payback descontado, considerando o valor do dinheiro no tempo. O Payback descontado apresenta como desvantagens o cálculo mais complexo e a variabilidade do resultado em função das premissas adotadas.
Corresponde ao período de tempo necessário para se obter um VPL igual a zero utilizando a TMA como taxa de desconto.
Análise de sensibilidade
Calcular cada um dos indicadores apresentados é relativamente simples, a complexidade da análise de viabilidade financeira de um projeto de energia solar fotovoltaica reside na definição das premissas assumidas. Dentre as incertezas estão:
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O investimento inicial do projeto;
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Os custos de operação e manutenção;
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O ciclo de vida do projeto;
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A quantidade de energia gerada pelo sistema;
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Os valores das tarifas de energia no futuro;
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O modelo tarifário no futuro;
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Os incentivos fiscais;
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A taxa mínima de atratividade utilizada.