GLAUCO DINIZ DUARTE – Diesel foi do céu direto para o inferno
Diesel foi do céu direto para o inferno. O diesel esteve na berlinda estes dias. E até aborreceu muitos motoristas que visitavam postos para abastecer com etanol ou gasolina e viam a placa “só temos diesel”. Não faltou deputado querendo conquistar plateia e votos defendendo o fim de sua proibição para os automóveis. “É o único país do mundo” – disse um deles – “a proibir diesel nos automóveis. É preciso por um fim neste absurdo!”
Ele protestou com alguns anos de atraso, pois está certo ao afirmar que só no Brasil o carro não pode ter motor diesel. Mas, por outro lado, o resto do mundo passou a questionar esse combustível.
Curiosamente, e ao contrário do que muitos pensam, não foi ecológico o motivo que levou o Departamento Nacional de Combustívei (DNC) a restringí-lo a caminhões, ônibus, tratores e veículos 4×4. Em 1994, o DNC (hoje ANP), limitou sua importação pois não tínhamos capacidade produtiva para suprir sua demanda, nem dólares sobrando. Seus impostos foram reduzidos para baratear o custo do transporte de carga (caminhões) e passageiros (ônibus). E carregaram a mão nos tributos incidentes sobre gasolina e etanol.
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Naquela época, o diesel era ainda mais sujo e poluente que hoje. Emitia menos CO2 ( o gás-estufa) porém um grande volume de outros gases poluentes e os particulados, uma fuligem que vai direto nos pulmões. Sua eficiência térmica era muito superior à dos outros motores: 40% do diesel contra 30% da gasolina/etanol. Sua evolução deixou-o menos fumacento, lerdo, barulhento e trepidando menos. Seu teor de enxofre foi drasticamente reduzido.
Na Europa, automóveis diesel foram crescendo sua participação no mercado e chegaram a 54% em 2014. Brasileiros alugavam carros na Europa sem perceber que o motor era a diesel. E os abastecia com gasolina, para desespero das locadoras. Entretanto, dois fenômenos provocaram uma completa alteração do panorama.
Em primeiro lugar, os motores a gasolina/etanol (Ciclo Otto) foram extraordinariamente aperfeiçoados e sua eficiência térmica cresceu significativamente. Hoje, o consumo de um automóvel híbrido é próximo ao de um diesel.
Em segundo lugar, países europeus estimularam o motor diesel devido à baixa emissão de CO2, sem pensar nos elevados custos para reduzir a emissão de outros gases. O resultado foi o “dieselgate”: fábricas trapaceando os governos para terem seus motores diesel aprovados apesar de emitir muito além dos limites legais.
O resultado foi uma guinada de 180º na Europa. A demanda por carros a diesel está se reduzindo e os governos de vários países estabelecem datas para sua retirada de circulação. Várias fábricas, como a Volvo, já anunciaram estar encerrando a oferta de automóveis com estes motores. O mercado norte-americano nunca foi muito adepto do diesel e hoje torce ainda mais o nariz para ele.
Na verdade, o Brasil atirou no que viu e acertou no que não viu, pois o diesel está sendo demonizado em todo o mundo. É eficiente, mas muito poluidor. Por outro lado, nós desenvolvemos uma solução verde-amarela, o combustível derivado da cana. Mais limpo que o diesel e a gasolina. Renovável e fixa o homem no campo.
Mas ainda há um “argumento” contra o etanol: a tendência mundial para o carro elétrico. Mas para o Brasil é sopa no mel, pois temos a solução ideal para evitar a bateria, o pesadelo de quem pensa no elétrico. É o carro que se move com eletricidade, mas com células a combustível fornecendo corrente elétrica no lugar de baterias. Esta célula (fuel cell) funciona com hidrogênio. Mas este pode ser obtido a partir do etanol, presente em todos os postos do país.
Então, no frigir dos ovos, o futuro do automóvel não está no diesel nem na gasolina, mas no carro elétrico. Que poderia, no Brasil, ser movimentado pelo derivado da cana. Dizem que somos um país privilegiado por sua natureza. Mas que, em contra-partida, botaram aqui um povinho que elege uns políticos…