GLAUCO DINIZ DUARTE Scania fará nova geração de caminhões no Brasil em 2019
Dois anos após o lançar na Europa sua nova geração de caminhões, a Scania confirmou que os novos modelos serão produzidos também no Brasil a partir de fevereiro de 2019, quando entram em linha na sexagenária fábrica de São Bernardo do Campo (SP). Ao contrário do que aconteceu nos mercados europeus, toda a gama será renovada e lançada de uma só vez, com preços de 10% a 15% maiores, colocando fim definitivo ao ciclo de vida da atual família de caminhões da marca sueca vendida no País e também exportada, que segue sendo produzida só até dezembro próximo.
A matriz da Scania na Suécia levou cerca de 10 anos e investiu € 2 bilhões para desenvolver a nova geração de caminhões, que e amplia significativamente o leque de opções da marca, com 19 tipos de configurações de cinco cabines modulares e motores de 7 a 16 litros para contemplar 35 tipos diferentes de aplicações, com a promessa de redução de consumo de diesel de até 12% na comparação com a atual gama ainda fabricada no Brasil. A planta de São Bernardo está sendo preparada desde 2016 para produzir os novos modelos e motores que agregam 12 mil novos componentes, com programa de investimento que soma R$ 2,6 bilhões até 2020. Segundo Christopher Podgorski, presidente da Scania Latin America, R$ 1,5 bilhão já foram investidos e os R$ 1,1 bilhão restantes serão aplicados ao longo dos dois próximos anos.
Entre os recursos já investidos em São Bernardo, Podgorski destaca a nova linha de produção de cabines, que consumiu boa parte dos recursos com renovação completa de equipamentos e instalação de 77 robôs. Também houve ampliação da cadeia de suprimentos com 14 novos fornecedores, que receberam investimentos em ferramentais fornecidos pela Scania. Em Tucumán, na Argentina, a fábrica de componentes de transmissão recebeu aportes para produzir novas peças para a nova caixa automatizada Opticruise. Por fim, a linha de montagem já foi paralisada duas vezes este ano, a última em julho, para introdução de novas máquinas.
Também foram aplicados recursos no desenvolvimento local da nova geração, para adaptação às condições de rodagem no Brasil, com testes em laboratórios e físicos, que já somam cerca de 1,5 milhão de quilômetros rodados pela equipe da Scania e em operações de 10 clientes que aceitaram testar os veículos em condições reais. Segundo a engenharia da fabricante, as principais mudanças aplicadas em relação aos modelos europeus foram para garantir maior robustez ao conjunto, devido às condições adversas das estradas brasileiras. “Redesenhamos tudo que foi necessário”, diz Podgorski.
Em janeiro a unidade será novamente paralisada durante o mês todo e cerca de mil técnicos vão entrar em ação para realizar as últimas modificações necessárias para fabricação da nova geração de caminhões – já como parte do plano de investimento que ainda resta aplicar até 2020. A produção comercial dos novos modelos será iniciada em fevereiro de 2019, a partir de quando os Scania completamente renovados começam a ser faturados gradualmente para entrega aos clientes brasileiros e externos. Foi montada na fábrica uma linha de montagem de testes, para treinar os funcionários.
Interior da nova cabine: ganho de ergonomia, visibilidade e segurança
Com sua nova geração de caminhões, a Scania aposta em compensar o preço maior com a oferta de substancial redução de consumo de diesel, de até 12% na comparação com a gama atual, e no aumento do número de opções que permite enorme número de configurações exclusivas, personalizadas para cada cliente. Para isso a rede está sendo treinada para aprender a vender de outra forma, conforme explica Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania Brasil.
Nas concessionárias, os vendedores vão passar a trabalhar com um aplicativo que recebe informações do comprador do caminhão, como tipo de operação (por exemplo, rodoviária ou fora-de-estrada, carga volumétrica ou líquida, etc.), rotas percorridas e topografia, para então processar a melhor opção dentro das diversas possibilidade que passarão a ser oferecidas pela Scania.
“Não vamos mais produzir 200 ou 300 veículos idênticos como fazemos hoje. Com a maior customização que vamos oferecer com a nova geração de caminhões, um será diferente do outro, mas sempre dentro de um mesmo padrão global. É uma nova abordagem baseada na profissionalização dos clientes, focados na rentabilidade, que não aceitam ais desperdícios”, explica Celso Mendonça, gerente de desenvolvimento de negócios da Scania.
As atuais cabines P, G e R, com sete configurações, darão lugar a 19 possibilidades diferentes nas novas P, G e R, acrescidas das ainda inéditas S (a topo de linha, com piso plano) e a XT, para operações severas fora-de-estrada. São três versões de teto: baixo, normal e alto (highline de 2,07 metros). De maneira geral, o conforto aumentou, a ergonomia melhorou e a segurança também, com introdução pela primeira vez de airbags cortina – capaz de reduzir em 25% a incidência de morte do motorista em caso de acidente com tombamento.
O design das novas cabines foi elaborado nos estúdios da Porsche, a marca de carros superesportivos que, assim como a Scania, pertence ao Grupo Volkswagen. Com isso, o ganho não foi só estético, mas na prática houve diminuição das alturas e arredondamento de cantos para reduzir o arrasto aerodinâmico, o que pode render economia de diesel de até 2%. “Podemos dizer que temos hoje a cabine de caminhão mais aerodinâmica do mundo”, garante Mendonça.
Os chassis da nova geração são fabricados com aços mais leves e resistentes. O motor foi reposicionado e o eixo dianteiro foi deslocado levemente para frente, para obter centro de gravidade mais baixo e dar maior estabilidade ao veículo. As configurações cresceram consideravelmente: de 5 para 26 possibilidades de distâncias entre-eixos e de 7 para 14 rodas. Os freios redimensionados reduziram em 5% a distância de frenagem.
Com adoção da versão Euro 5 dos motores XPI, o número de propulsores usados pelos caminhões Scania subiu e três para quatro, com 11 potências: 7 litros 220/250/280 cavalos; 9 litros 280/320/360 cv; 13 litros 410/450/500/540 cv; e 16 litros 620 cv. Segundo a fabricante, os novos XPI são até 8% mais econômicos que a linha atual e praticamente iguais aos Euro 6 aplicados na Europa.
Ao contrário da maioria dos concorrentes que conjuga a tecnologia EGR (recirculação de gases) com a SCR (pós-tratamento catalítico) para atender as normas europeias de redução de emissões de poluentes, a Scania conseguiu obter o mesmo resultado só com uso do SCR. O que muda na motorização Euro 5 ou Euro 6 do XPI é a unidade de pós-tratamento, o motor é o mesmo. Isso facilitou a produção da nova geração com motorização Euro 5 no Brasil, que poderá ser produzida também como Euro 6 para exportação.
A solução também tornará mais fácil a vida da engenharia brasileira da empresa quando for adotada aqui a norma Proconve P8, que deverá ser equivalente à Euro 6, pois em tese a Scania já estará pronta a fabricar em São Bernardo caminhões que atendam a nova fase da legislação de emissões.
Completa o powertrain a nova geração da transmissão automatizada Opticuise, que segundo a Scania aumentou de 40% a 50% a velocidade de troca de marchas (algo como 0,4 segundo), o que praticamente elimina perda de pressão do turbocompressor, mantém o giro mais estável e contribui para baixar o consumo em 2%.
Somando as contribuições do powertrain e da melhor aerodinâmica da nova cabine, chega-se à redução no consumo de até 12% prometida pela Scania para a sua nova geração de caminhões. “Temos o caminhão mais inteligente do mercado para queimar combustível fóssil”, diz Mendonça.
A nova geração está preparada para trabalhar com biodiesel e HVO (diesel sintético) e terá duas versões específicas movidas a etanol e três a gás, biometano ou GNV. Mais adiante, poderá também receber propulsão elétrica e híbrida.
O lançamento oficial da nova linha de caminhões Scania será em outubro, as encomendas abrem em novembro, mas o faturamento só será feito a partir de fevereiro, quando começa a produção comercial em São Bernardo e a montadora já terá vendido todo o estoque da família atual de produtos.